Esportes

Paratleta se divide entre combate à covid-19 e treinos de esgrima

Dentro do paradesporto, Fabiana Soares é a atleta brasileira melhor posicionada na categoria florete classe A (com mobilidade no tronco; amputados ou com limitação de movimento). E ainda sonha com uma vaga para representar o Brasil nos Jogos Paralímpicos de Tóquio no ano que vem. Para isso, a esgrimista de 41 anos, nascida em Petrópolis (RJ), segue treinando firme mesmo durante a pandemia. Mas esse lado esportivo dela será mostrado com mais detalhes no final da reportagem.

Agora é o momento do outro objetivo que vem ocupando os dias da carioca nesses últimos meses. O combate à covid 19. “Sou fisioterapeuta e trabalho como intensivista há quase dez anos”, comenta à Agência Brasil. Atualmente, ela faz parte da equipe do CTI do Hospital dos Servidores do Estado, no Instituto Estadual de Infectologia, na capital fluminense.

“Cada semana é uma tortura. Eu fico com medo de pegar a doença. Só atendemos casos confirmados de covid, alguns em estado bem grave. Não é uma emergência de portas abertas. Já estou há quatro meses nessa luta”, comenta.

São plantões de 24 horas sempre às terças-feiras e um domingo por mês. “Graças a Deus não tive nenhum sintoma. Sempre faço os testes. Mas é claro que dá bastante medo. Ainda mais porque tenho o meu grande sonho que é chegar nos Jogos de Tóquio. Só podemos entrar no Centro de Tratamento depois de vestir todos os equipamentos de proteção individual, máscara, capote impermeável, touca, óculos. É uma rotina bem cansativa, ainda mais para mim que tenho a deficiência. Não estou no grupo de risco, mas é uma questão que exige maiores cuidados da minha parte. Além de ter nascido com cranioestenose, deformidade na cabeça do bebê, e ter operado com apenas um mês de vida; ela tentou corrigir aos 10 anos um encurtamento de fêmur na perna esquerda. Só que essa cirurgia não ocorreu de forma adequada e a diferença de 3,5 cm se transformou em 8,0 cm com o passar dos anos. Chego até a dormir com a máscara muitas vezes”.

A rotina dentro do CTI é bem pesada e deixa marcas nos profissionais. “Em quase todos os plantões acaba morrendo alguém. É muito triste. A maioria das pessoas afetadas já tem um pouco mais de idade e comorbidades, muitos obesos e hipertensos. Vários médicos que trabalham comigo acabaram sendo contaminados. Inclusive, um do meu plantão de terça-feira faleceu com 41 anos. Foi muito triste. Marca demais todo mundo. Perdemos uma menina de 19 anos lá. Um cara de 38 também morreu. Essa doença não está escolhendo muito a idade, não”, lamenta.

O renascimento do sonho de Tóquio

Com o adiamento dos Jogos Paralímpicos para 2021, o sonho de estar na equipe verde e amarela no outro lado do mundo voltou com muita força. Inicialmente os dois últimos torneios desse ano que contariam pontos no ranking mundial (a etapa de São Paulo da Copa do Mundo e o Regional das Américas no Rio de Janeiro) foram cancelados. Mas, a Associação Internacional que regula a modalidade (IWAS) aproveitou o adiamento da Paralimpíada e remarcou esses torneios para o final de fevereiro e o início de março de 2021.

“Eu já tinha perdido a minha vaga. Não tinha mais chances. Fiquei apenas quatro pontos atrás de uma competidora canadense, a Ruth Sylvia Morell. Mas eles resolveram remarcar essas disputas e, se eu for bem, estarei lá em Tóquio. Voltei a ter chances. Isso me animou bastante. É o que eu mais quero: ir para os Jogos Paralímpicos”.  

No ranking mundial combinado de sabre e florete, a brasileira é a 20ª. Para ela se classificar, deve estar entre as 25 melhores e à frente justamente da canadense. “Tenho treinado bastante aqui em casa. Voltei a fazer personal. E a equipe está se reunindo para alguns trabalhos online. É assim que seguimos. Não dá para ficar parado. Quero muito essa vaga.”

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