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Há 90 anos nascia Cauby Peixoto, o maior cantor do rádio brasileiro

Cauby Peixoto, considerado um dos maiores e mais versáteis intérpretes da música brasileira, completaria se vivo fosse 90 anos nesta quarta-feira (10). Costumeiramente conhecido pela música Conceição (Jair Amorim/Dunga), samba-canção que virou seu maior sucesso desde a década de 50, Cauby Peixoto foi muito além e em seis décadas mostrou versatilidade na voz interpretando diversos estilos. Foi um ícone da Era do Rádio, mas sempre se renovou e manteve seu repertório atualizado com as novas gerações, com músicas de Chico Buarque, Gonzaguinha, Tom Jobim, Carlos Colla, Roberto e Erasmo, dentre outros.

Nascido em Santa Rosa, bairro de Niterói, então capital do Estado do Rio de Janeiro, o “Professor”, como era chamado no meio artístico, iniciou sua carreira artística no final da década de 1940. Estudou em um Colégio de Padres Salesianos em Niterói, onde chegou a cantar no coro da escola e também no coro da igreja que frequentava. Também trabalhou em um comércio até resolver participar de programas de calouros no rádio, no final da década de 40, no Rio de Janeiro.

Sua voz era caracterizada pelo timbre grave e aveludado, mas principalmente pelo estilo próprio de cantar e interpretar, além da extravagância e penteados excêntricos. Proveniente de uma família de músicos, o pai (conhecido como Cadete) tocava violão, a mãe bandolim, os irmãos eram instrumentistas, as irmãs cantoras e o tio pianista. Sobrinho do músico Nonô, pianista que popularizou o samba naquele instrumento, Cauby também era primo do cantor Ciro Monteiro.

Cauby gravou seu primeiro álbum em 1951, pela Carnaval, que continha “Saia Branca” e “Ai, que Carestia”. Na época, teve pouca repercussão. Gravou ainda, já no ano seguinte, “Blue Guitar”, um dueto com Leny Eversong. No ano seguinte, veio “O Teu Beijo” e “Tudo Lembra Você”. Em 1953, gravou seu último disco 78 rpm pela Todamérica,

Em 1952, por intermédio de seu irmão Moacyr, conheceu Di Veras, empresário conhecido por suas estratégias de marketing. Ele o levou a São Paulo, especificamente à rua da Rádio Nacional. Di Veras começou a trabalhar na estética e na imagem pública de Cauby, exigindo que ele se vestisse bem, pois por ser de família humilde não era acostumado, mas perante os cantores da época, era uma obrigação ser elegante. As mudanças no seu visual tornar-se-ia uma constante.

Em 1955 lançou seu primeiro sucesso no Brasil, o “Blue Gardênia”, em uma versão que trouxe dos Estados Unidos em português. Na época, era um sucesso na voz de Nat King Cole, seu ídolo. Di Veras trabalhou com Cauby até 1958, quando ele atingiu o 5º lugar nos álbuns mais tocados nos EUA.

Em 1980, em comemoração aos 25 anos de carreira, lançou pela Som Livre o álbum Cauby, Cauby, com composições escritas especialmente para ele por Caetano Veloso (“Cauby, Cauby”), Chico Buarque (“Bastidores”), Tom Jobim (“Oficina”), Roberto Carlos e Erasmo Carlos (“Brigas de amor”) e outros. O disco foi considerado sua “volta por cima”. “Bastidores”, particularmente, se converteria em um dos maiores sucessos do repertório do cantor. No mesmo ano, apresentou-se nos espetáculos Bastidores (Funarte, Rio de Janeiro) e Cauby, Cauby, os bons tempos voltaram, na boate Flag (SP).

Em 1989, os 35 anos de carreira foram comemorados no bar e restaurante A Baiuca (São Paulo), ao lado dos irmãos Moacyr, Arakén, Yracema e Andyara (vozes). No mesmo ano, a RGE relançou o “LP Quando os Peixotos se encontram”, de 1957. Em 1993 foi o grande homenageado, ao lado de Ângela Maria, no Prêmio Sharp. Foi lançada pela Columbia caixa com 2 CDs abrangendo as gravações de 1953 a 1959, com sucessos como Conceição entre outros.

Ao lado de Roberto Carlos, Cauby foi o artista que mais fez parceria musical no Brasil. Teve uma carreira muito eclética, talvez maior do que a de qualquer outro, gravando músicas de vários estilos, tais como: samba, bossa-nova, boemia, sertanejo, jazz, rock, pop, soul, tango, bolero, jovem guarda, seresta e música romântica.

Foi o primeiro cantor brasileiro a gravar uma música do célebre maestro Tom Jobim, “Foi a Noite”, em 1956; de quem também gravou o clássico “Samba do Avião”, em 1962, cuja gravação é tida como a primeira da Bossa Nova.

Em 2007, foi o vencedor do Grammy Latino na categoria “Melhor Álbum de Música Romântica” com o CD “Eternamente Cauby Peixoto – 55 anos de carreira” lançado em 2006 pela gravadora Atração.

Em 2011, em ocasião dos seus oitenta anos de idade e sessenta anos de carreira, a organização do Grammy Latino decidiu que Cauby Peixoto seria homenageado com o prêmio Latin Recording Academy’s President Merit Award. O artista foi ovacionado pelo público presente no Teatro Paulo Goulart, em São Paulo. Cauby foi o primeiro artista a receber esta homenagem do Grammy Latino.

Em 2012, foi homenageado no carnaval pela escola de samba Águia de Ouro, onde desfilou em um carro alegórico, vestido de rei da MPB.

Em 28 de maio de 2015, seu documentário foi lançado no Brasil, (Cauby – Começaria tudo outra vez) de Nelson Hoineff. O filme possui noventa minutos, e conta toda sua trajetória. A película marcou a reinauguração do Cine Odeon. Nela, Cauby fala sobre sua sexualidade e outros temas. Ao longo dos noventa minutos de exibição, o público se assenta em três pilares: além da ideia do eterno recomeço, o modelo de interpretação atemporal de Cauby Peixoto e a sinergia entre ele e a plateia, que transcende gerações. O documentário foi o mais rentável e de maior sucesso do ano de 2015.

Cauby Peixoto morreu na noite de 15 de maio de 2016, aos 85 anos, em São Paulo, por volta das 23h50. Ele estava internado para tratar de uma pneumonia, desde o dia 9 de maio no Hospital Sancta Maggiore, no Itaim Bibi, na Zona Sul de São Paulo.

A última apresentação do artista ocorreu no dia 3 de maio de 2016, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, Cauby cantou ao lado de cantora Ângela Maria com quem estava em turnê de comemoração de sessenta anos de carreira.

O velório de Cauby Peixoto aconteceu no hall da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, sendo seu corpo sepultado no Cemitério de Congonhas.

Em 2016, pouco mais de dois meses após a sua morte, Cauby foi o vencedor do Prêmio da Música Brasileira, na categoria “Melhor Álbum em Língua Estrangeira”, pelo CD “Cauby Sings Nat King Cole”, gravado em 2015.

 

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