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O legado de Codó 36 anos após sua morte

Filho de Paulo de Brito e de Carolina Arcanjo de Brito, Clodoaldo Brito, ou simplesmente Codó, era um símbolo do músico brasileiro. Nesta terça-feira (25), a morte do músico completa 36 anos nesta terça-feira (26).

Violonista e compositor baiano, nasceu na cidadezinha de Cairú no Município de Salinas da Margarida, autodidata aprendeu a tocar violão pelo método prático do Canhoto ainda na infância e começou a compor na adolescência, tendo como sua primeira composição “Minha Primeira Valsa” de 1930.

Fabricou seu primeiro violão, com tábuas de caixote e cordas de piaçava. Aos 9 anos de idade ganhou seu primeiro violão, onde atendendo ao pedido do filho, Paulo o pai de Codó, trocou a vaca leiteira da família pelo instrumento. Por muitos anos usou o primeiro violão que ganhou do pai.

Antes de decidir-se pela música, foi pescador, lavrador, comerciante e capoeirista no Mercado Modelo.

Como violonista, tornou-se conhecido primeiramente no interior do estado da Bahia e em 1938 foi para Salvador, onde já desfrutava de alguma fama.

Entre os anos 40 e 50 trabalhou anos na Rádio Sociedade da Bahia e no Hotel da Bahia, acompanhando grandes estrelas como Silvio Caldas, Nora Ney e Dircinha Batista, dentre outros quando iam à Bahia. Sua primeira música gravada foi “Iaiá da Bahia”, por Araci Costa em 1951.

Na década 60, casado, com Antonina Mascarenhas a quem ele chamava carinhosamente de Zinha, e pai de 10 filhos, mudou-se para o Rio de Janeiro trazendo toda a família.

Na carreira lançou 10 LPs, sendo o primeiro em 1964 intitulado Codó – Alma do Mar, com músicas cantadas e instrumentais, incluindo solos de violão e acompanhamentos de conjunto regional e o último LP em 1984 estreando a série Musica Brasileira vol. 1 – Codó, apresentando temas instrumentais e cantados e já com a participação dos filhos.

Outras composições de sua autoria que se tornaram conhecidas foram “Zum Zum”, na voz de Vanja Orico 1955, “Taiti”, na interpretação de Rosinha de Valença, e “Tim-dom-dom” (parceria com João Mello), gravada por João Donato em “Muito à Vontade” 1962, Jorge Ben em “Samba Esquema Novo” 1963 por Sérgio Mendes em “Brasil 66” 1966, entre outros; em 2013 no Rock in Rio executada por Mallu Magalhães e orquestra.

Emblemáticas em seu repertório as músicas Alma do Mar, Briga de Rei, Canoeiro, Capoeira Três, Ó Bahia, Pra Ribeira Eu Vou e Samba em Jazz destacam-se na discografia de Codó.

Codó foi também compositor de choros, como “Bole-bole”, “Quadradinho” e “Boladinho”.

Gravou e participou de shows com Elizeth Cardoso, Paulo Moura, Sivuca, Raul de Barros, Wilson das Neves, Nelson Cavaquinho, Riachão, Ataulfo Alves, Egberto Gismonti, Pixinguinha, Jackson do Pandeiro, Jorginho do Pandeiro, Ismael Silva, Carmen Costa, entre outros.

Bastante respeitado no meio artístico, amigo de músicos como João Gilberto, Paulinho da Viola, Nelson Cavaquinho e Paulo Moura, homenageado pelo amigo Baden Powell na música “Um Abraço no Codó” e para o qual também dedicou músicas como “Um Abraço no Baden” e “Badinho”.

Trocou vaca por violão

De acordo com relato da filha do violonista baiano, Marilena Mascarenhas Brito, mais conhecida como Leninha, Codó soube que um homem vendia um violão numa cidade próxima. Foi até lá. Mas percebeu com tristeza: as pequenas reservas financeiras que levara não eram suficientes para adquirir o instrumento. Raciocínio rápido, o garoto fez ao homem a seguinte proposta: trocar o violão pela vaca leiteira do quintal de casa. A troca foi aceita – agora só faltava o consentimento do pai.

Voltando para casa, Codó sugeriu ao seu pai, que trocasse a vaca leiteira da família pelo violão. Seu pai de inicio fez resistência à troca, mas para realizar o sonho de seu filho, terminou cedendo a seu pedido.

Depois de aprender a tocar violão, Codó queria mais, queria ir para o Mercado Modelo em salvador tentar a vida, mostrando sua arte, e comercializando os produtos de seu quintal (azeite de dendê, farinha de mesa, beju, frutos do mar, doces em compotas, castanhas de caju, licor de caju e jenipapo, etc.).

Capoeirista em Salvador

Codó também levava para a “Feira de Sete Portas” em salvador, seu galo de briga, que era um grande campeão. No jogo da capoeira, Codó também fez fama no “Mercado modelo” e na “feira de Sete Portas”, onde ganhava dinheiro com suas apresentações.

Nessas apresentações nos mercados populares, Codó conheceu os músicos, e amigos, Batata e Riachão, de quem ganhou uma música em sua homenagem, um xote baião que dizia assim “Codó conhecido é / por homi minini mulé / De salina ao Porto do Cairú / de São Roque a Barra de Paraguaçu / Codó conhecido é / por homi minini mulé”. E foi na “Feira de Sete Portas”, que Codó conheceu Antonina Figueiredo Borges Mascarenhas, que posteriormente veio a ser sua mulher, com quem teve 10 filhos.

Primeiro LP

Já sendo então bem conhecido no Rio de Janeiro, Codó troca Salvador pela capital carioca e se muda com a família – já não conseguia controlar a questão dos direitos autorais estando longe da capital da música brasileira. Finalmente, em 1964, pouco mais de trinta anos passados desde que compôs a primeira música, lança LP de estreia: Alma do Mar – O Violão de Codó.

O disco tinha 12 composições exclusivamente de Codó,  com exceção de Tim Dom Dom, em parceria com João Mello. Entre as canções encontra-se Um abraço no Baden, que retribuiu a delicadeza do amigo com a composição Um abraço no Codó. (No LP Vim Para Ficar, de 1970, encontra-se a faixa Badinho, outra homenagem de Codó para Baden Powell).

Em 1967 lança o LP Codó e o Mar, primeiro disco pela RGE, no qual mescla composições próprias com as dos filhos Antônio e Claudio. Dois anos depois lança  um novo long-play: Um Violão muito Bom, Modéstia à Parte, e, em 1970 e1973, outros dois: Vim Para Ficar e Brincando com as Cordas.

Novos discos

Em 1978 e 1979 surgem mais dois discos: Codó e o violão e Coisas da Minha Terra. No segundo reuniu legião de craques: Wilson das Neves (bateria), Luizão Maia (baixo), Dino 7 Cordas, Neco (guitarra e cavaquinho), Deo Ryan (bandolim), Jorginho do Pandeiro, Paulo Moura (clarinete), Sivuca (sanfona), Copinha (flauta), Hamilton (piston) e Netinho (sax).

Em 1982, Codó fez temporada na Sala Funarte, no Rio de Janeiro, ao lado de Nelson Cavaquinho. No ano seguinte, na mesma sala, em outubro, apresenta-se com Raul de Barros.

O último trabalho que lançou foi o LP Codó – Volume 1 da Série Música Brasileira, lançado em 1984. Codó chegou a ver as provas do material gráfico e a ouvir as faixas do LP, mas morreu de infarto no miocárdio em Niterói, no dia 26 de janeiro de 1985, ou seja, antes que o LP fosse lançado.

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