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Polícia aponta Flordelis como mandante da morte do marido e prende cinco dos filhos do casal

Depois de um ano e dois meses de investigação, a deputada federal Flordelis (PSD-RJ), de 59 anos, foi indiciada como a mandante do assassinato do próprio marido, o pastor Anderson do Carmo, 42, em junho do ano passado. Além de ser apontada como a responsável pelo crime, a parlamentar e a família foram alvos, na última segunda-feira (24), da Operação Lucas 12, que uniu agentes do Ministério Público estadual (MPRJ) e a Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSGI).

Seis familiares da deputada foram presos e 14 mandados de busca e apreensão sobre a morte do líder religioso foram cumpridos na casa da parlamentar, em Niterói, e em outros endereços ligados à ela, em São Gonçalo, na capital, e até mesmo Brasília. Os mandados foram expedidos pela 3ª Vara Criminal de Niterói. Houve apreensão de celulares e computadores.

“Ela foi surpreendida com a nossa chegada, chorou um pouco, porque tinha muita gente dentro de casa”, revela o chefe do Departamento Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa (DGHPP), o delegado Antônio Ricardo Nunes.

Flordelis não pode ser presa pela Polícia Civil porque tem foro privilegiado. Uma cópia do inquérito da DHNSGI será encaminhado para a Câmara dos Deputados. O procedimento poderá levar ao afastamento da parlamentar para que ela possa ser presa.

A parlamentar foi indiciada por homicídio triplamente qualificado por motivo torpe, tentativa de homicídio triplamente qualificado (referente à tentativa de envenenar o pastor), associação criminosa, falsidade ideológica e uso de documento falso.

De acordo com o delegado Allan Duarte, titular da Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHSNGI), pelo menos 11 dos 55 membros da família estão envolvidos com a execução do dia 16 de junho de 2019. Nove mandados de prisão foram cumpridos em endereços de Brasília e Rio de Janeiro em uma grande operação para buscar suspeitos do crime hoje. Entre os presos, estão quatro filhos e uma neta de Flordelis.

“Temos 11 pessoas respondendo criminalmente. Levando em conta que a família tem 55 pessoas, temos 20% de envolvidos. Todos eles têm uma participação que foram comprovadas no decorrer da investigação”, destaca o delegado.

“A motivação do crime é porque ela estava insatisfeita com a forma como o pastor Anderson tocava a vida e fazia a movimentação financeira da família”, conta o delegado.

A tentativa de homicídio é porque a família é acusada de ter tentado matar o líder religioso diversas vezes, antes de sua execução.

Denúncia

A denúncia apresentada à Justiça aponta que Flávio dos Santos Rodrigues, em conluio com Lucas Cézar dos Santos de Souza, Flordelis e os demais denunciados, atirou diversas vezes contra Anderson do Carmos de Souza, na madrugada do dia 16 de junho de 2019, em sua casa no bairro Badu, Pendotiba, Niterói. Flordelis é responsabilizada por arquitetar o homicídio, arregimentar e convencer o executor direto e demais acusados a participarem do crime sob a simulação de ter ocorrido um latrocínio. A deputada também financiou a compra da arma e avisou da chegada da vítima no local em que foi executada, segundo a denúncia.

O motivo do crime, descreve a denúncia, seria o fato de a vítima manter rigoroso controle das finanças familiares e administrar os conflitos de forma rígida, não permitindo tratamento privilegiado das pessoas mais próximas a Flordelis, em detrimento de outros membros da numerosa família.

De acordo com o Ministério Público do Rio de Janeiro, as ações dos demais denunciados são descritas em diferentes etapas como no planejamento, incentivo e convencimento para a execução do crime, assim como em tentativas de homicídio anteriores ao fato consumado, pela administração de veneno na comida e bebida da vítima, ao menos seis vezes, sem sucesso, segundo apontaram as investigações.

Na denúncia, o GAECO/MPRJ reafirma a competência do Juízo de Primeiro Grau no caso, conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal acerca do foro por prerrogativa de função aplicar-se apenas aos crimes cometidos durante o exercício do mandato e relacionado às funções empenhadas. No caso, não foram observados elementos que poderiam revelar relação de causalidade entre o crime imputado e o exercício do cargo.

O CRIME

O pastor Anderson do Carmo morreu na madrugada do dia 16 de junho do ano passado, quando havia acabado de chegar com a esposa, em Pendotiba. Ele foi alvo de vários tiros, na garagem da residência. O laudo da necrópsia apontou que o corpo do líder religioso tinha 30 perfurações de bala.

Na ocasião, Flordelis afirmou que o marido tinha sido morto durante um assalto. Ela disse que os dois estavam sendo seguidos por suspeitos em uma moto quando voltavam para casa.

Dois filhos do casal, Flávio dos Santos Rodrigues, 38, filho biológico da deputada, e Lucas Cézar dos Santos de Souza, 18, adotado por ambos, vão ser julgados como executores do crime. Eles estão presos desde a época do assassinato.

Falsa carta

A investigação apontou que familiares tentaram fazer com que Flávio assumisse a culpa pelo crime sozinho. Uma carta contando o assassinato foi atribuída a ele, que chegou a confessar ter mandado matar o padrasto. Flávio, no entanto, se sentiu injustiçado e voltou atrás.

“Também é imputado a Flordelis e a outros denunciados o crime de uso de documento falso, por tentarem, através de carta redigida por Lucas, atribuir a pessoas diversas a autoria e ordem para a prática do homicídio. Segundo a denúncia, o executor Flávio tinha o objetivo de livrar ele próprio e Flordelis da responsabilização do crime. Flordelis também tinha o objetivo de vingar-se de dois de seus filhos ‘afetivos’ que não teriam aceitado as ordens de calar ou faltar a verdade durante os depoimentos”, diz o Ministério Público.

Tentativas de envenenamento

A deputada federal Flordelis (PSD-RJ) tentou envenenar o próprio marido, o pastor Anderson do Carmo, pelo menos seis vezes antes de ele ser assassinado a tiros a mando dela, a primeira delas em maio de 2018. A informação foi divulga pela polícia na manhã de segunda-feira.

Doses de arsênico chegaram a ser colocadas na comida do pastor, que precisou buscar atendimento de emergência em unidades de saúde com sintomas como diarreia, sudorese e vômitos.

“Pelo menos outras duas tentativas foram arquitetadas para vitimar o pastor e só não ocorreram por circunstância alheias a vontade dessas pessoas. Uma foi quando ele foi efetuar a compra de um veículo na Barra da Tijuca acompanhado de outros filhos. Ela, juntamente com outras pessoas, arquitetou, planejou e deliberadamente falou para que o executor o matasse simulando latrocínio, se cercando para que demais pessoas não fossem atingidas”, disse o delegado.

A segunda situação ocorreu quando um homem chegou a ser pago para matar o pastor. Segundo o delegado, o crime não foi cometido na ocasião porque ocorreu uma troca de veículos, o que criou uma confusão no executor, além de outra pessoa estar junto ao pastor no momento em que o assassinato aconteceria.

“Ela, ao assumir o cargo de deputada, nos parece que se sentiu mais empoderada para levar a cabo esse crime. Vimos tentativas de contratar pistoleiros, matador profissional, chegou a ser pago alguém, mas não foi levado a cabo e por fim o grupo familiar convenceu a executar o pastor quando ele chegava em casa”, disse o promotor Sérgio Luiz Lopes Pereira, do Grupo de Atuação Especializada e Combate ao Crime Organizado (Gaeco).

Partido abre processo para expulsão

O PSD informou, na manhã de segunda-feira (24), que vai abrir um processo para expulsão da deputada federal Flordelis (RJ) do partido. A informação foi divulgada pelo presidente nacional da legenda, o secretário estadual da Casa Civil de São Paulo, Gilberto Kassab, após o indiciamento da parlamentar como mandante da morte do marido, o pastor Anderson do Carmo.

Na nota divulgada, Kassab informa que “diante do indiciamento da parlamentar, o corpo jurídico do partido adotará as medidas para a suspensão imediata de sua filiação” (veja íntegra mais abaixo). A evangélica está em seu primeiro mandato como deputada federal.

Além de ser indiciada, nesta segunda, Flordelis e nove pessoas envolvidas com o crime, praticado na madrugada de 16 de junho do ano passado, foram alvos de mandados de busca e apreensão. Seis delas, dentre elas cinco filhos e uma neta da parlamentar, foram presos.

Prisões:

. Adriano dos Santos Rodrigues (filho biológico): auxiliou no episódio da carta falsa

. Simone dos Santos Rodrigues (filha biológica): responsável pelos envenenamentos; buscou informações sobre uso de veneno na Internet

. André Luiz de Oliveira, o Bigode (filho adotivo e ex-marido de Simone): flagrado em conversas com Flordelis combinando envenenamento do pastor

. Carlos Ubiraci Francisco da Silva (filho adotivo): participou no planejamento da morte

. Marzy Teixeira da Silva (filha adotivo): cooptou Lucas para matar o pastor e também participou dos envenenamentos

. Rayane dos Santos Oliveira (neta): buscou por assassinos para as tentativas anteriores, inclusive, Lucas (PRESA EM BRASÍLIA)

. Marcos Siqueira Costa (ex-PM que esteve preso com filhos de Flordelis): PRESO EM 2019

. Andrea Santos Maia (mulher de Marcos): entrou em contato com a família, auxiliando na confecção da carta falsa elaborada por Lucas na prisão

. Flávio dos Santos Rodrigues (filho biológico): responsável pelos tios que matou o pastor (PRESO EM 2019)

Os crimes apontados no assassinato: 

. homicídio triplamente qualificado

. tentativa de homicídio

. falsidade ideológica

. uso de documento falso

. organização criminosa majorada (uso da violência)

 

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