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Antônio Calado, um pensador do Brasil

O jornalista e escritor Antonio Callado, autor de obras como Quarup e Reflexo do baile, completaria na terça-feira 104 anos (nasceu em 26 de janeiro de 1917, em Niterói, Rio de Janeiro, e morreu dois dias depois do seu aniversário de 80 anos, em 28 de janeiro de 1997). Ele utilizou a literatura como uma importante ferramenta de resistência cultural. Callado harmonizava como poucos a ficção com questões políticas de seu tempo. Seus romances podem hoje ser lidos também como valiosos documentos sociológicos para entender a sociedade e a política do Brasil dos anos 50, 60 e 70.

Formado em Direito, Callado foi para Inglaterra, em 1941, trabalhar como redator na BBC de Londres, onde permaneceu até 1947. Ao voltar para o Brasil, ele passou a se dedicar ao jornalismo e à literatura.

Na década de 1950, escreveu o livro de reportagens Esqueleto da lagoa verde, peças de teatro e os seus dois primeiros romances, Assunção de Salviano, de 1954, e A madona de cedro, de 1957. Ao todo, foram nove romances.

Callado foi uma pessoa extremamente apaixonada pelo país e que, por se opor à ditadura, foi duas vezes detido. Em 1975, decidiu trocar a rotina das redações para se dedicar profissionalmente à literatura. Ele escreveu nove romances, seis livros-reportagem, sete peças de teatro, um livro de contos e um ensaio biográfico.

Um dos mais importantes críticos literários do País, Davi Arrigucci, afirma que a obra de Callado resistiu ao tempo, tão cruel com boa parte dos escritores que fizeram do seu ofício uma maneira de interpretar o Brasil. “Os romances e os livros de reportagens de Callado contribuíram para dar uma visão da história do Brasil, de suas implicações políticas”, ressalta ele, descrevendo: “Uma obra investigativa, que se assemelha aos romances policiais, e que é uma tentativa de realismo crítico muito digna e de considerável importância para a literatura brasileira”.

Biografia

Nascido em Niterói (RJ), em 1917, Antônio Carlos Callado começou a escrever em jornais, desde a sua juventude. Apesar de formado em Direito (1939), nunca exerceu atividade na área jurídica. Militou na imprensa diária no período entre 1937 a 1941, nos jornais cariocas O Globo e Correio da Manhã. Em 1941, em plena Segunda Guerra Mundial, transfere-se para Londres onde trabalhou para a BBC até 1947. Depois da libertação de Paris, trabalhou no serviço brasileiro da Radiodiffusion française.

Na Europa descobre “sua tremenda fome de Brasil”. Lê incansavelmente literatura brasileira e alimenta o desejo de, ao voltar, conhecer o interior do país. Na volta, satisfaz esse desejo ao fazer grandes reportagens pelo Nordeste, pelo Xingu, sobre Francisco Julião, Miguel Arraes e outras.

Atuou como redator-chefe do Correio da Manhã de 1954 a 1960, quando foi contratado pela Enciclopédia Britânica para chefiar a equipe que elaborou a primeira edição da Enciclopédia Barsa, publicada em 1963. Redator do Jornal do Brasil, cobriu, em 1968, a Guerra do Vietnã. Em 1974, dá aulas nas universidades de Cambridge, na Grã-Bretanha, e Columbia, nos Estados Unidos. Em 1975, quando trabalhava no Jornal do Brasil, deixa a rotina das redações para dedicar-se profissionalmente à literatura.

Callado estreou na literatura em 1951, mas sua produção na década de 1950 consiste basicamente em peças teatrais, todas encenadas com enorme sucesso de crítica e público. Mas a mais bem sucedida foi Pedro Mico, dirigida por Paulo Francis, com o arquiteto Oscar Niemeyer em inusitada incursão pela cenografia, e Milton Moraes criando o papel-título. Foi transformada em filme estrelado por Pelé.

A produção de romances toma impulso nas décadas de 1960 e 1970, período em que surgem seus trabalhos mais importantes. Alinhado entre os intelectuais que se opunham ao regime militar, tendo por isso sido preso duas vezes, Callado revela em seus romances seu compromisso político, principalmente naquele que muitos consideram o romance mais engajado daquelas décadas, Quarup.

Callado escrevia à mão e mantinha uma rotina de trabalho, com horário rígido para todas as atividades, que incluíam duas caminhadas por dia. Mandou fazer uma mesinha portátil que o acompanhava pela casa toda, permitindo-lhe escrever em qualquer lugar. Não discutia, nem comentava seu trabalho com ninguém, até que estivesse finalizado.

De seu casamento em 1943 com Jean Maxine Watson, inglesa, funcionária da BBC, teve três filhos, entre eles a atriz Tessy Callado. Em 1976, casou-se com Ana Arruda.

Callado recebeu várias condecorações e prêmios, no Brasil e no exterior. Em 1994, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. Morreu dois dias depois de completar 80 anos, em 28 de janeiro de 1997. “Quarup”, sua obra mais famosa, conta a história de um padre que sonha com uma sociedade igualitária e que no fim acaba aderindo à luta armada.

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