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Maria Odília Teixeira, médica negra pioneira no Brasil

Maria Odília Teixeira é a mais antiga médica negra que se tem registro historiográfico no Brasil. Maria era filha do médico branco José Pereira Teixeira e de Josephina Luiza Palma, mulher negra cuja mãe havia sido escravizada e depois alforriada. Aos 13 anos, ela deixou a cidade onde morava para estudar no Ginásio da Bahia, em Salvador, espaço das elites de homens brancos da capital. Lá, ela se graduou em Ciências e Letras, formação na época para seguir no magistério, e aprendeu francês, grego e latim. Em 1904, ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia (Fameb), tendo como tutor o irmão Joaquim Pereira Teixeira, que havia ingressado no curso dois anos antes.

Ela se formou em 15 de dezembro de 1909, ano em que no Brasil as mulheres ainda não podiam sequer votar. Nesse ano, a Lei Áurea, que marcou o fim da escravidão na lei, tinha apenas 21 anos desde sua promulgação. Esse contexto tornava a presença de Maria Odília, uma mulher e negra, na faculdade de medicina um fato extraordinário. [6] Ela foi a única mulher em uma turma com mais 47 homens. Foi a sétima mulher graduada em medicina pela Faculdade da Bahia, e a primeira diplomada no século XX. Em sua tese, “Algumas considerações acerca da curabilidade e do tratamento das Cirrhoses Alcoólicas”, Maria Odília abordou a cirrose alcólica.

Após formar-se, voltou para Cachoeira, onde começou a atuar. No início, muitos dos atendimentos eram tutelados pelo pai, irmão ou outro médico. Depois, passou a atuar sozinha, tendo uma clientela majoritariamente feminina. Cinco anos após a formatura, em 1914, foi convidada a voltar a Salvador para dar aulas de Clínica Obstétrica, tornando-se a primeira professora negra da Faculdade de Medicina da Bahia.

Ela deixou a docência, porém, em 1917, para cuidar do pai que estava com a saúde deteriorada. Primeiro voltou a Cachoeira e depois seguiu com a família para Irará, no sertão baiano, em busca de uma melhora na saúde do pai. Foi ali que conheceu seu futuro marido, Eusínio Lavigne, advogado de família tradicional de cacauicultores de Ilhéus, no sul da Bahia. Casaram-se na casa do irmão de Maria, Tertuliano Teixeira, em Irará, aos 37 anos – idade considerada avançada para o casamento de uma mulher na época. Quando Eunísio, um branco, avisou a família que casaria com uma mulher negra seus familiares acharam que era mentira. Os parentes de Eunísio não compareceram ao casamento. Maria não demorou a sentir o preconceito da família do marido e da sociedade ilheense quando chegou à cidade.

Depois do casamento, Maria decidiu deixar a medicina para se dedicar à família e teve dois filhos. Seu marido, inspirado em ideias comunistas, entrou para a política, tornando-se intendente de Ilhéus até 1937, quando foi deposto e preso por criticar o golpe de Getúlio Vargas que instaurou a ditadura do Estado Novo (Eunísio seria preso novamente durante a Ditadura Militar. A família mudou-se, então, para Salvador. Na década de 1950, Maria escreveu uma carta defendendo o legado do pai, desmerecido no livro Teixeira Moleque, do deputado e médico Rui Santos.

Maria morreu em 1970, aos 86 anos.

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