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A genialidade do samba de Cartola

Cartola nasceu no Rio de Janeiro, em 11 de outubro de 1908, mais precisamente no bairro do Catete, filho de Sebastião Joaquim de Oliveira e Aida Gomes de Oliveira, o quarto fruto de uma série de sete filhos. Ele foi batizado como Angenor de Oliveira, mais tarde seria conhecido como Cartola, um dos maiores cantores, compositores e poetas brasileiros.

Ao completar oito anos ele já integrava blocos de carnaval, e neste período sua família se transferiu para Laranjeiras, quando aprendeu a tocar cavaquinho com o pai, no rancho conhecido como Arrepiados, bem como ao lado das irmãs, participando das Festas de Reis, quando elas se vestiam de ‘pastorinhas’.

Aos onze anos, por problemas financeiros, sua família foi obrigada a fixar residência no Morro da Mangueira. Ele conseguiu estudar até o primário, mas aos 15 anos, com a perda da mãe, o cantor abandonou tanto a família quanto os estudos, dando impulso à sua vida de boemia. Mesmo assim, Cartola foi fértil na sua produção poética, mas jamais se enquadrou profissionalmente. Passou a vida em empregos temporários, como pedreiro, pintor de paredes, lavador de carros, vigia de prédio e contínuo em uma repartição pública.

No ofício de pedreiro ele ganhou o apelido que o consagraria, pois ele usava um chapéu para trabalhar, já que sua vaidade o deixava nervoso sempre que sujava os cabelos com a manipulação do cimento. A morte prematura de Dona Aida e o rigor paterno levaram a sua saída de casa. Ao se ver sem ninguém, ele mergulhou nos casos amorosos, ficou enfermo e foi obrigado a deixar o trabalho.

Chegando a um passo da morte, ele se reanimou com o auxílio dos companheiros. Para sobreviver ele vendia, a princípio, os sambas por ele compostos. A primeira dessas canções foi Que infeliz sorte, de 1927, negociado por trezentos contos de réis e lançado por Francisco Alves.

Seu envolvimento com o Carnaval, desde pequeno, o levou a participar da fundação da escola de samba Estação Primeira da Mangueira, a segunda a ser criada em solo carioca, no ano de 1928. Em 1925, ao lado de seu amigo Carlos Cachaça, ele instituiu o Bloco dos Arengueiros, o qual alguns anos depois, no dia 28 de abril de 1928, foi expandido e se transformou na Mangueira.

O nome da Escola e suas cores, verde e rosa, foram escolhas de Cartola, inspirado no colorido de seu time de futebol, o Fluminense. Logo no desfile inicial, o samba enredo da Escola foi composo por Cartola, Chega de Demanda, responsável pelo primeiro prêmio da Mangueira, só gravado por ele em 1974, no disco História das escolas de samba: Mangueira, pela Marcus Pereira.

No início da década de 30 o compositor ficou famoso fora da Mangueira, justamente com a venda de seu primeiro samba, seguido por outros que também foram gravados por Francisco Alves, preservando porém sua autoria. Em 1932, sua composição Tenho um novo amor foi gravada por Carmen Miranda. Logo depois ele realiza uma gravação com Sílvio Caldas, lançada por este, o samba Na floresta.

Na década de 40, ele se torna parceiro de diversos músicos famosos, como Pixinguinha, João da Baiana, Donga, Jararaca, Zé da Zilda e outros. Esta produção, uma concepção do maestro Leopold Stokowski, dos EUA, foi lançada neste país em 1946, no álbum Native Brazilian Music.

Apesar de ser o fundador da Escola, Cartola algumas vezes discordou da diretoria da Mangueira, deixando assim de participar dos desfiles em 1949 e em 1977. Ele se distancia dela por algum tempo e passa a residir na Baixada Fluminense. Ao enviuvar, é atingido por uma meningite. Um tanto esquecido nos anos 50, torna-se lavador de carros, mas é redescoberto e trazido de volta ao sucesso por Sérgio Porto.

Ao se curar ele retorna para o morro e reencontra a viúva Dona Euzébia Silva do Nascimento, a célebre Dona Zica, irmã da esposa de Carlos Cachaça. Eles contraem matrimônio após viverem juntos doze anos, em 1964. Junto a ela ele cria As Rosas não Falam, Nós Dois, Tive Sim e O sol Nascerá, um trabalho conjunto com Elton Medeiros, gravado por Nara Leão, a musa da Bossa Nova.

Nos anos 60 o casal e mais dois companheiros criam o famoso botequim ZiCartola, onde se concentram os grandes sambistas da época, propiciando o aparecimento de vários novos talentos. Seu primeiro álbum, Cartola, é lançado quando ele já se encontra com 65 anos. O cantor, embora criador de sambas maravilhosos, como As Rosas Não Falam, O Mundo é um Moinho, Ensaboa Mulata, O Sol Nascerá, entre outros, morre na pobreza, no dia 30 de novembro de 1980, portador de um câncer fatal, em terras cariocas, residindo em uma casa concedida pela Prefeitura do Rio de Janeiro.

Compositor de mais de quinhentas músicas, melodicamente ricas, com letras de intensa natureza poética, Cartola tem sido regravado pelos mais conhecidos nomes da música popular brasileira, até mesmo por roqueiros como Cazuza. No centenário de sua morte, em 2008, ele se encontra mais vivo que nunca, através de sua obra, continuamente renovada por novos intérpretes.

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