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Justiça quer extradição de esposa do ‘Faraó dos Bitcoins’ dos Estados Unidos para o Brasil

O juiz Vitor Barbosa Valpuesta, da 3ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, determinou que o Ministério da Justiça e Segurança Pública seja oficiado para que solicite ao governo dos Estados Unidos a extradição da venezuelana Mirelis Yoseline Dias Zerpa, esposa de Glaidson Acácio dos Santos, o “Faraó dos Bitcoins”. Numa decisão na última sexta-feira (02), o magistrado decretou a prisão preventiva de Mirelis e de Vicente Gadelha Rocha Neto, apontado pela Polícia Federal como um dos comparsas de Glaidson.

Valpuesta também ordenou a inclusão dos mandados de prisão de Mirelis e Gadelha no sistema de Difusão Vermelha da Interpol. No caso de Vicente Gadelha, o juiz determinou que o pedido de extradição seja feito à República Dominicana, onde ele está atualmente. Procurado, o Ministério da Justiça informou apenas que “não comenta casos concretos ainda em andamento”.

Em 1º de agosto, o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) João Otávio de Noronha converteu uma das ordens de prisão contra Mirelis no cumprimento de medidas cautelares. Na semana passada, a defesa da venezuelana pediu à Justiça Federal que ela pudesse cumprir nos Estados Unidos as medidas cautelares determinadas judicialmente — entre elas, entregar seu passaporte à Justiça, não sair de casa das 16h às 6h, exceto em casos de emergência, e não acessar a internet e interagir em redes sociais.

Com o aval dos advogados, Mirelis tem divulgado vídeos nas redes sociais na tentativa de minimizar a sua participação no esquema da GAS, que lesou pelo menos 120 mil clientes — número de pessoas já cadastradas no Escritório Zveiter, que cuida da recuperação judicial da empresa. E essa foi uma das justificativas de Valpuesta para a expedição do novo mandado de prisão.

“O descumprimento é inegável, eis que as postagens são posteriores, como dito, à imposição das medidas cautelares mencionadas e de sua ciência pelos requeridos, e violam-nas frontalmente”, escreveu o juiz na decisão. “De outro giro, cabe salientar que não se trata apenas de ter descumprido as cautelas impostas; o contexto e o motivo da imposição se chocam irremediavelmente contra a postura dos requeridos, de maneira a tornar inviável que permaneçam em liberdade”, continuou o magistrado no documento.

O juiz argumentou ainda que “o fato de que os requeridos não apenas acessaram a rede mundial de computadores, mas o fizeram realizando postagens em suas redes sociais e plataformas de comunicação de massa, de maneira ostensiva, indica duas coisas: por um lado, que muito possivelmente fizeram mais do que isso – como acessar carteiras de armazenamento de criptoativos, por exemplo, cerne, como já dito, das próprias imputações que lhes foram desferidas pelo Ministério Público -, e, de outro, que não têm qualquer intenção de se submeter às determinações da Justiça Brasileira, agindo em total desprezo às condições que, ao fim e ao cabo, haviam presidido a substituição do encarceramento preventivo, tido por excessivo pela Instância Superior”.

Funções no esquema

No ano passado, logo depois que Glaidson Acácio dos Santos foi preso, Mirelis sacou o equivalente a pouco mais de R$ 1 bilhão em criptomoedas nos Estados Unidos. A venezuelana é apontada como trader – a pessoa responsável pelas transações de compra e venda – da GAS Consultoria Bitcoin, segundo apontaramm as investigações da Delegacia de Combate às Organizações Criminosas e à Lavagem de Dinheiro (DCOC-LD) da Polícia Civil do Rio.

Após o saque bilionário, ela usou as redes sociais para avisar aos clientes que não tem dinheiro para indenizá-los, há pouco mais de um mês. Os vídeos foram gravados mesmo sem autorização da Justiça, mas com aval dos advogados de Mirelis. Estes, por sua vez, garantiram que os recursos foram usados para honrar os pagamentos a investidores nos dias seguintes. Os vídeos também têm sido uma tentativa de defesa: ela alega, entre outros argumentos, que nunca foi sócia administradora das empresas que operavam diretamente com bitcoins.

O primeiro vídeo divulgado pela esposa de Glaidson tem 27 minutos e foi gravado no dia 4 de julho, em tom de desabafo, em seu canal no YouTube. Foi a primeira vez que ela se pronunciou após o início da operação Kryptos, deflagrada em 25 de agosto de 2021 pela Polícia Federal. Ao se apresentar, em espanhol com legendas em português, a venezuelana não revelou sua localização, mas disse que tinha começado a escrever um livro, até então com duas páginas que prontas.

Além de ser formalmente sócia da GAS, Mirelis é apontada, em diversas ações movidas por clientes da GAS na esfera cível, como uma das idealizadoras do esquema. Ela figura como alvo, enquanto pessoa física, na enorme maioria dos processos contra o grupo que tramitam Brasil afora.

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