A dimensão da tragédia causada pelo temporal que caiu sobre Petrópolis nesta terça-feira, dia 15, só começou a poder ser medida quando as águas baixaram. Corpos de pessoas arrastadas pela enxurrada e pela cheia dos rios foram encontrados no Centro Histórico da cidade. Até o início da manhã desta quarta-feira, dia 16, as equipes oficiais de busca já haviam confirmado 38 mortes devido à chuva.
No Morro da Oficina, o cenário é de destruição e desespero de famílias que ainda procuram por parentes desaparecidos, entre eles, muitas crianças. Nesta quarta-feira, uma mãe tentava encontrar a filha, de 17 anos, cavando com uma enxada nas mãos. A todo momento ela chamava pela jovem. Em outro ponto da região, um pai gritava pelo nome da filha e tentava cavar com as mãos para tentar chegar até o ponto onde ele acredita que está a menina: “Ela está aqui, está aqui. Cadê a minha filha?”, clamava o homem, agachado, aos prantos.
Uma equipe da Inter TV passou pelo Centro de Petrópolis à noite, quando o rio que corta a Rua do Imperador, uma das principais da cidade, começou a baixar e encontrou seis corpos. As imagens mostram bombeiros e policiais retirando as vítimas em sacos pretos, em meio a lixo e destroços que foram levados pela correnteza. Atônitos e parecendo ainda assustados, alguns moradores observam a destruição e a retirada dos mortos.
Quando a chuva estiou por volta das 23h30, o cenário visto na Rua Teresa, principal polo comercial da cidade, era de devastação. A via ficou coberta por lama, e todas as lojas sem luz.
A cidade entrou em estágio de crise, o mais alto numa escala de três. Até as 20h30, a Defesa Civil municipal registrava 80 pontos de deslizamento. Todas as sirenes instaladas em áreas de risco foram acionadas. Em seis horas, o acumulado pluviométrico atingiu 259 milímetros — acima da média esperada para todo o mês de fevereiro, de 238,2 milímetros.
Na região do Morro da Oficina, carros foram arrastados pela enxurrada. Ruas viraram rios, deixando moradores em pânico. Já o centro de Petrópolis ficou debaixo d’água: até o quartel dos bombeiros foi completamente inundado. Na noite desta terça-feira, parte de Petrópolis continuava sem luz, e pessoas, isoladas à espera de socorro.
‘Cena de guerra’, diz governador
O governador do Rio, Claudio Castro, foi até Petrópolis para ver de perto os estragos causados pelo temporal dessa terça-feira. Em entrevista à Globonews, Castro afirmou que a cidade vive uma tragédia de grandes proporções: “Cenas de guerra. Carros pendurados em postes! O que foi visto no alto da cidade foi algo impressionante, um volume de agua nunca visto na cidade”, declarou.
Ainda na noite de terça-feira, o governador se reuniu com o prefeito Rubens Bomtempo e o presidente da Alerj, André Ceciliano, na sede da Prefeitura de Petrópolis, após a decretação do estado de calamidade.
Segundo o governador do Rio, os desabrigados serão cadastrados para receber aluguel social, sem necessitar, portanto, ficar em abrigos. Castro também afirmou que o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, prometeu ajuda, e deve ir à Petrópolis esta semana para avaliar as formas de ajuda à cidade. O governador espera, também, que o presidente Jair Bolsonaro, que está em viagem à Rússia, visite a região.
Rua Teresa
Principal centro comercial de Petrópolis, e maior polo de moda da Região Serrana do Rio, a Rua Teresa foi muito atingida pelo temporal que atingiu e destruiu parte da cidade e provocou dezenas de mortes entre a tarde e a noite de terça-feira (15).
Na manhã desta quarta-feira (16), várias partes da via estavam tomadas por lama, água, galhos e veículos arrastados pela enxurrada. Em diversos trechos, o local precisou ser interditado.
Segundo dados do Sindicato do Comércio de Petrópolis, as atividades na Rua Teresa geram 20 mil empregos diretos – são cinco mil estabelecimentos comerciais dos mais variados segmentos, mas principalmente dedicados à venda de roupas.
A tragédia acontece em um momento no qual os comerciantes começavam a se recuperar do prejuízo provocado pela pandemia.
Pontos de apoio
A Prefeitura abriu todos os pontos de apoio para o acolhimento da população de área de risco.
“Em geral, essas estruturas funcionam em escolas e neste momento, há atendimentos nas localidades do Centro, São Sebastião, Vila Felipe, Alto Independência, Bingen, Dr. Thouzete e Chácara Flora. Ao todo, 184 pessoas estão recebendo suporte da prefeitura, que direcionou para as unidades profissionais da Saúde, Educação, Agentes Comunitários, além da Defesa Civil”, disse o município.
Pontos de Acolhimento
Esses locais recebem doações e abrigam desalojados:
- Centro de Educação Infantil Chiquinha Rolla
- Escola Estadual Augusto Meschick
- Escola Municipal Alto Independência
- Escola Municipal Ana Mohammad
- Escola Municipal Doutor Paula Buarque
- Escola Municipal Doutor Rubens de Castro Bomtempo
- Escola Municipal Duque de Caxias
- Escola Municipal Governador Marcello Alencar
- Escola Municipal Odette Fonseca
- Escola Municipal Papa João Paulo II
- Escola Municipal Rosalina Nicolay
- Escola Municipal Stefan Zweig
- Escola Paroquial da Igreja Bom Jesus
- Quadra do Boa Esperança Futebol Clube
- Salão Paroquial da Igreja São Paulo Apóstolo