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Armando Manzanero, ícone mexicano do bolero

O compositor morre de Covid-19 aos 85 anos

Um dos compositores mais emblemáticos da música mexicana atual, Armando Manzanero era artista referencial do bolero, gênero musical cubano que contagiou o mundo ao ser adotado pelo México, país desse compositor que também era cantor e produtor musical, tendo dado voz às próprias criações. Suas canções foram interpretadas por nomes como Andrea Bocelli, Frank Sinatra, Christina Aguilera e Julio Iglesias.

Morto aos 86 anos na segunda-feira (28), Armando estava internado em estado grave em hospital por complicações de Covid-19, anunciou o presidente Andrés Manuel López Obrador.

“É algo muito triste, Don Armando Manzanero, um grande compositor, do melhor do país, além de um homem sensível também no social. Lamento muito seu falecimento”, disse o presidente, em sua habitual entrevista coletiva matinal.

O artista foi internado em 17 de dezembro, após testar positivo para o novo coronavírus e apresentar tosse e baixa oxigenação. Seis dias depois, foi intubado para receber suporte de ventilação mecânica “com pleno consentimento”, ainda conforme seus agentes.

A notícia do óbito foi inesperada. No domingo (27), sua assessoria de imprensa informou que o quadro de saúde do músico avançava favoravelmente e que os médicos se preparavam, inclusive, para desentubá-lo esta semana.

Recentemente, o bolerista foi homenageado, presencialmente, pelo governo de seu estado natal, Yucatán (leste), com a abertura de um museu dedicado a sua vida e obra.

Ao retornar para a Cidade do México, Manzanero começou a apresentar tosse, de acordo com sua esposa, Laura Elena Villa, citada pelo jornal El Universal.

Manzanero é amplamente conhecido na América Latina. Há seis anos, ele se tornou o primeiro músicos do país a receber um Grammy honorário pela sua trajetória. Em quase seis décadas de carreira, lançou cerca de 30 álbuns, vários deles com hinos do cancioneiro romântico em espanhol, como “Somos Novios” e “Esta Tarde Vi Llover”.

Orgulhoso de sua origem maia e com só 1,54 metro de altura, Manzanero se casou cinco vezes e teve sete filhos. Ele dizia ter convivido com a música e o romantismo desde cedo –seu pai também era cantor. “As palavras vêm até mim do mundo em que vivi. Quando era criança, vivia perto do mar, vendo a natureza, assistindo a todos aqueles entardeceres e amanheceres”, afirmou à BBC numa entrevista seis anos atrás.

No Brasil, os boleros de Manzanero ganharam as vozes de grandes cantores, a partir dos anos 1960, às vezes no original em espanhol, muitas vezes em versões em português escritas por nomes como Paulo Coelho.

Antes de se consagrar como escritor, Coelho verteu o bolero Me vuelves loco para Elis Regina (1945 – 1982). Feita pela cantora em 1981 para a trilha sonora da novela Brilhante (TV Globo), a sensual gravação do bolero Me deixas louca foi o último registro fonográfico de Elis.

Antes, Nazareno de Brito vertera Contigo aprendi (1967), bolero apresentado ao Brasil em 1968 nas vozes do Trio Irakitan e do cantor Lindomar Castilho antes de ser gravado por cantores como Altemar Dutra (1940 – 1983) e Simone, intérprete que chegou a gravar três composições de Manzanero (Voy a apagar la luz, Mía e Adoro) em álbum em espanhol, La distancia (1993), feito para o mercado hispânico.

Outro bolero de Manzareno que ganhou várias vozes brasileiras foi Esta tarde vi llover. Roberto Carlos o gravou em 1979 com a letra original em espanhol. Anos antes, a versão em português de J. Barroso, Esta tarde vi chover, chegara ao disco nas vozes dos cantores Demétrius (1942 – 2019) e Nelson Gonçalves (1919 – 1998) em 1964 e em 1968, respectivamente.

O mesmo Roberto Carlos assinou a versão em português de Yo te recuerdo, Eu me recordo, gravada pelo cantor em 1974, ano em que Roberto também gravou Yo te recuerdo no original em espanhol para disco direcionado ao mercado latino de língua hispânica.

Quatro anos depois, o recorrente Roberto gravou Por fin mañana em espanhol no álbum brasileiro de 1978, em mais uma contribuição para popularizar no Brasil os boleros de Manzanero, que produziu álbum dedicado pela cantora Joanna ao gênero, Intimidad (1998).

A lista de cantores do Brasil que gravaram o cancioneiro de Armando Manzanero é extensa e inclui Alcione (Todavia, em 2011), Emilio Santiago (1946 – 2013) (Contigo aprendi em 1981, Só me faltas tu em 1997 e Esta tarde vi llover em 1998), Gal Costa (Contigo aprendi, em 2001, em versão em português de Geraldo Carneiro), Ivan Lins (Esta tarde vi llover, em 2002), Joyce Moreno (Esta tarde vi llover, em 2009), Leny Andrade (medley com Contigo aprendi e Esta tarde vi llover em 1985 e Mía em 2010) e Sidney Magal (Travessuras, em álbum obscuro de 1982), entre outros nomes.

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