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Com edição virtual, Flip 2021 começa neste sábado

Nomes de peso como Alice Walker, Margaret Atwood e Conceição Evaristo estão confirmadas

A Flip – Festa Literária Internacional de Paraty, um dos principais eventos literários do país, começa neste sábado (27), sua 19ª edição, novamente em formato virtual. O evento homenageará pensadores, conhecedores e mestres indígenas que perderam suas vidas durante a pandemia do Covid-19.

Pela primeira vez na história, a organização da Flip elegeu um tema geral para a festa em vez de um autor homenageado. A programação toda girará em torno da relação da literatura com as plantas e a floresta.

O coletivo de curadoria da festa buscou inspiração nas matas e na relação do indivíduo, enquanto parte desta natureza exuberante, com a própria natureza. Considerando o ritmo frenético dos dias atuais, sua programação pretende trazer à luz questões fundamentais, como ancestralidade, saberes, coexistência e o legado de uma população que aprendeu com a terra, uma população vinculada à terra.

Uma análise sobre o comportamento humano e novas formas de integração social, natural, econômica e política. A vida após o período da pandemia que assolou o planeta, causando incontáveis perdas e a necessidade de adaptações urgentes e dinâmicas alternativas.

O conteúdo educativo e as mesas do programa principal serão transmitidos ao vivo pelo canal da Flip no Youtube.

Também é inédita a curadoria feita por cinco intelectuais de diversas áreas, quando a Flip tradicionalmente convidava uma pessoa para ocupar a posição.

A autodenominada “floresta curatorial” é composta pelo antropólogo Hermano Vianna, colunista deste jornal; a educadora e editora Anna Dantes, o escritor Evando Nascimento, doutor em filosofia; o antropólogo João Paulo Lima Barreto, do povo tukano, do Alto Rio Negro; e o professor de literatura Pedro Meira Monteiro, da Universidade Princeton.

 

CONFIRMADOS

Entre os destaques da programação – que tem como objetivo central explorar o conceito de plantas e literatura – está a participação da canadense Margaret Atwood, autora do best-seller O conto da Aia (Rocco). Ela participará da mesa “Utopia e distopia”, junto com Antonio Nobre, no dia 1º de dezembro, às 20h.

 

No dia 04/12, às 18h, mais três nomes de peso. A autora mineira Conceição Evaristo participa da mesa “Em busca do jardim”, junto com a americana Alice Walker, autora de A cor púrpura (José Olympio) e Em busca dos jardins de nossas mães (Bazar do Tempo). A mediação ficará por conta de Djamila Ribeiro.

No mesmo dia, às 20h, Alejandro Zambra, autor de O poeta chileno, e Ana Martins Marques, autora da obra A vida submarina – ambas publicadas pela Companhia das Letras – participam da mesa “Ouvir o verde”, com mediação de Rita Palmeira.

Também estão confirmados na programação nomes como Adriana Calcanhotto, Han Kang, Stefano Mancuso, Carlos Papá, David Diop, Cristine Takuá, Leonardo Fróes, Kim Stanley Robinson, Eliane Brum, Ailton Krenak e Muniz Sodré. Os dois últimos encerram a programação da Flip no dia 05/12, às 18h, na mesa “Cartografias para adiar o fim do mundo”. A mediação será do editor, Vagner Amaro, da Malê.

 

PROGRAMAÇÃO

Sábado, 27 de novembro

16h
A abertura da programação trará o líder indígena Carlos Papá e a educadora Cristine Takuá conduzindo uma cerimônia guarani. A festa traz ao centro o conceito de “Nhe’éry”, termo que literalmente significa “onde as almas se banham” e é usado pelo povo guarani para designar a mata atlântica, bioma em meio ao qual está a cidade de Paraty.

18h – Mesa 2 – Literatura e plantas

O botânico italiano Stefano Mancuso, que publicou “A Planta do Mundo” e “A Revolução das Plantas” pela editora Ubu, conversa com Evando Nascimento, um dos curadores do evento, que é pioneiro na pesquisa sobre literatura pelo viés das plantas e acaba de lançar pela Record “O Pensamento Vegetal”.

Domingo, 28 de novembro

16h – Mesa 3 – Naturalismo e violência

Micheliny Verunschk, poeta e romancista elogiada por “O Som do Rugido da Onça”, publicado este ano pela Companhia das Letras, conversa com o franco-senegalês David Diop, autor que venceu o prêmio International Booker por “Irmão de Alma”, que saiu no Brasil pela editora Nós. A casa publica em breve também seu ensaio “A Porta da Viagem sem Retorno”.

Os dois autores pautam a violência colonial. Enquanto a pernambucana fala sobre o desterramento de crianças indígenas brasileiras, Diop fala da participação de soldados da costa ocidental africana na Primeira Guerra Mundial.

18h – Mesa 4 – Folhas e verbos

Edimilson de Almeida Pereira, que venceu esta semana o prêmio São Paulo de literatura pelo romance “Front”, da editora Nós, conversa com a francesa Véronique Tadjo, autora de origem marfinense.

Seu livro “Na Companhia dos Homens”, ainda não publicado no Brasil, conta o massacre de uma aldeia pelo ponto de vista de um baobá, enquanto os poemas de Pereira também trazem a conexão da ancestralidade negra com o mundo vegetal.

Segunda, 29 de novembro

18h – Mesa 5 – Plantas e cura

João Paulo Lima Barreto, um dos curadores da festa literária e fundador do Centro de Medicina Indígena, discute os saberes dos povos originários nesse campo com a ecóloga australiana Monica Gagliano e a agricultora Silvanete Lermen.

Terça, 30 de novembro

18h – Mesa 7 – Zé Kleber: micélios

O biólogo britânico Merlin Sheldrake, que expôs seu estudo sobre a importância dos fungos para o mundo no recém-lançado “A Trama da Vida”, da editora Fósforo, dialoga com o cientista paratiense Jorge Ferreira.

20h – Mesa 8 – Tecnobotânicas

Giselle Beiguelman, professora da Universidade de São Paulo e autora de “Políticas da Imagem”, da Ubu, discute com K. Allado McDowell, pessoa não binária especialista em tecnologia e inteligência artificial que trabalhou por anos no programa Artists + Machine Intelligence do Google.

Quarta, 1º de dezembro

18h – Mesa 9 – Fios de palavras

O poeta carioca Leonardo Fróes, uma das maiores referências brasileiras na realização de literatura inspirada pela botânica, completou 80 anos em 2021 e ganhou uma coletânea abrangente na editora 34.

Ele participa da mesa ao lado das também poetas Júlia de Carvalho Hansen e Cecilia Vicuña, chilena que articula na literatura e nas artes plásticas a resistência à ditadura pinochetista e a representação dos povos indígenas do país.

20h – Mesa 10 – Utopia e distopia

A escritora canadense Margaret Atwood, autora da distopia “O Conto da Aia” e da sequência “Os Testamentos”, publicadas pela Rocco, é uma das convidadas de maior destaque da edição deste ano. Ela divide a mesa com o cientista brasileiro Antonio Nobre.

Atwood deu uma entrevista à Folha em setembro, na qual comparou a cultura do cancelamento ao totalitarismo, rebateu críticas de viés racial a sua obra e discutiu o que mudou no mercado editorial ao longo de seus 60 anos de carreira.

Quinta, 2 de dezembro

18h – Mesa 11 – Botânicas migrantes

A palestra reúne duas autoras que publicaram romances de destaque este ano. A angolana Djaimilia Pereira de Almeida trouxe ao Brasil pela Todavia seu romance “A Visão das Plantas”, destaque no prêmio Oceanos que conta a história de um ex-capitão de navio negreiro que se dedica ao jardim em sua aposentadoria.

A autora, que tem publicado textos de ficção regulamente na Ilustríssima, explicou à Folha, na época do lançamento, o que a motivou a refletir de forma profunda sobre a questão da culpa e da consciência em um personagem tão aterrador.

Já Elif Shafak, uma das escritoras mais lidas na Turquia, publicou pela HarperCollins o livro “10 Minutos e 38 Segundos neste Mundo Estranho”, finalista do Booker que relata o feminicídio de uma prostituta e foi acusado em seu país de obscenidade. Em entrevista concedida em julho, ela discutiu as ameaças da censura e do populismo no mundo.

20h – Mesa 12 – Políticas vegetais

O americano Kim Stanley Robinson, autor que faz ficção científica partindo quase sempre da catástrofe climática e que publicou “Nova York 2140” pela Planeta, conversa com a jornalista Eliane Brum, que publicou “Banzeiro Òkòtó: Uma Viagem à Amazônia Centro do Mundo” pela Companhia das Letras.

Sexta, 3 de dezembro

20h – Mesa 14 – Vegetalize

A mesa reúne a sul-coreana Han Kang, da brutal sátira “A Vegetariana” e da trama política de “Atos Humanos”, e a escritora brasileira Adriana Lisboa, que já ganhou o prêmio José Saramago e este ano lanlçou a coletânea de poemas “O Vivo”, pela Relicário,

Sábado, 4 de dezembro

16h – Mesa 15 – Transflorestar – ato um

O filme com direção, roteiro e atuação da compositora Iara Rennó estreia em meio à programação da Flip. Com participação de Curumin, Thalma de Freitas e Ava Rocha, Rennó se inspira no pensamento de intelectuais como Davi Kopenawa e Eduardo Viveiros de Castro para pensar novos mundos possíveis.

18h – Mesa 16 – Ouvir o verde

O romancista chileno Alejandro Zambra, que pautou as plantas em livros como “Bonsai” e “A Vida Privada das Árvores”, conversa com a poeta mineira Ana Martins Marques, que pensa a natureza em obras como “O Livro dos Jardins”.

20h – Mesa 17 – Em busca do jardim

A mesa traz o encontro entre duas das maiores autoras negras vivas, a brasileira Conceição Evaristo, de “Ponciá Vicêncio” e “Olhos d’Água”, e a americana Alice Walker, vencedora do Pulitzer por “A Cor Púrpura”.

Domingo, 5 de dezembro

16h – Mesa 18 – Metamorfoses

O filósofo italiano Emanuele Coccia, considerado um dos principais responsáveis por disseminar o conceito de “virada vegetal” que inspirou esta Flip a dar protagonismo às plantas, conversa com a cantora Adriana Calcanhotto, que construiu durante sua residência na Universidade de Coimbra o concerto-tese “A Mulher do Pau Brasil”, de inspirações antropofágicas.

18h – Mesa 19 – Cartografias para adiar o fim do mundo

Na mesa de encerramento, o líder indígena Ailton Krenak, autor de “Ideias para Adiar o Fim do Mundo” e “A Vida Não É Útil”, publicados pela Companhia das Letras, pensa os desafios do país ao lado de Muniz Sodré, colunista deste jornal e autor de “Pensar Nagô” e “A Sociedade Incivil”, editado pela Vozes. A conversa aproxima as raízes do pensamento indígena à do afro-brasileiro, com o objetivo de mapear futuros possíveis para o Brasil.

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