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Em plena pandemia, Pastor Everaldo é preso por corrupção na Saúde

O avanço da Covid-19 pelo Rio de Janeiro tem sido preocupante desde o início do isolamento social, em março deste ano. Embora recentemente, o Estado tenham começado a demonstrar níveis mais controlados pela primeira vez em quase seis meses, os casos da doença já voltaram a aumentar. O cenário que deveria ser de atenção redobrada, cuidados e mudanças de hábitos não impediu os casos de desvio do dinheiro público.

Presidente nacional do PSC e principal articulador do governo Witzel, Pastor Everaldo, foi preso na manhã de sexta-feira (28). Ele é acusado de fazer parte do esquema de desvio de recursos públicos destinos à saúde do Estado do Rio de Janeiro, cujo chefe é Wilson Witzel (PSC-RJ), afastado do cargo pelo Superior Tribunal de Justiça.

Everaldo também é investigado pela operação Lava Jato sob acusação de ter recebido R$ 6 milhões da Odebrechet para ajudar Aécio Neves (PSDB) nos debates presidenciais de 2014.

O pastor foi candidato à Presidência da República em 2014 e também ao Senado em 2018.

Everaldo foi preso na operação Tris in Idem da PF (Polícia Federal) que investiga irregularidades em contratos públicos do executivo do Rio de Janeiro. Ele é acusado de ser o principal articulador do esquema de corrupção envolvendo os recursos destinados à pandemia da covid-19.

As autoridades cumprem ainda 17 mandados de prisão, sendo seis preventivas e 11 temporárias, e 72 de busca e apreensão. Além dessas medidas, em outro inquérito, o também ministro do STJ Jorge Mussi autorizou o cumprimento de 12 mandados de busca e apreensão no estado do Piauí, com o objetivo de coletar provas sobre suposto esquema de nomeação de funcionários fantasmas no governo fluminense para desvio de dinheiro público.

O pastor Everaldo foi encaminhado para a sede da PF na região portuária da cidade. Em nota, ele afirmou que sempre esteve à disposição de todas as autoridades e reitera sua confiança na Justiça.

Operação Tris in Idem

A operação, batizada de Tris in Idem, é um desdobramento da Operação Favorito e da Operação Placebo — ambas em maio, e da delação premiada de Edmar Santos, ex-secretário de Saúde.

O nome é uma referência ao terceiro governador que, segundo os investigadores, faz uso de um esquema semelhante de corrupção – em menção oculta aos ex-governadores Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão.

‘Não tem dinheiro’

“Não tem dinheiro em casa”. Essa foi a única frase dita pelo pastor Everaldo, ao ser preso em sua residência no Recreio dos Bandeirantes, zona oeste do Rio. Seu mandado de prisão foi expedido pelo ministro Benedito Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), o mesmo que determinou o afastamento imediato do governador Wilson Witzel (PSC) do cargo, por 180 dias.

Quatro agentes da PF e uma procuradora federal chegaram por volta das 5h50 na residência de Everaldo Dias Ferreira, de 64 anos, onde permaneceram por cerca de 1h30. O alvo demorou a abrir a porta, e houve tentativa de arrombamento, até que ele permitiu a entrada dos policiais. Foram encontrados documentos da mulher do pastor no local.

O político chegou na sede da PF, no Centro do Rio, às 8h21m. Sem falar com a imprensa, o integrante ele chegou no banco de trás de um carro oficial do órgão, com máscara de proteção facial. O pastor estava sentado no meio, entre dois agentes, com uma pasta branca nas mãos. Ao sair do veículo, ele carregava uma sacola preta.

A advogada do Pastor Everaldo, Marta Leão, chegou na sede PF às 8h32 e não quis falar com a imprensa. Em nota, a defesa dele afirmou que “ele sempre esteve à disposição de todas as autoridades e reitera a sua confiança na Justiça”

O PSC também se manifestou por meio de nota e informou que o ex-senador e ex-deputado Marcondes Gadelha, vice-presidente nacional da legenda, assume provisoriamente o cargo de presidente. O calendário eleitoral do partido segue sem alteração. O PSC informa ainda que “confia na Justiça e no amplo direito à defesa de todos os cidadãos e que o pastor, assim como o governador Wilson Witzel, sempre estiveram à disposição das autoridades”.

A operação Tris in Idem culminou ainda no afastamento do governador Wilson Witzel. No total, foram expedidos 17 mandados de prisão (seis preventivas e 11 temporárias) e 72 de busca e apreensão.

Ativo na política há mais de 30 anos

Com mais de 30 anos de atuação nos bastidores da política nacional, o Pastor Everaldo aprendeu a se movimentar entre partidos de direita e esquerda com desenvoltura, principalmente no Rio, seu domicílio eleitoral, onde transitou pelos governos de Leonel Brizola, Benedita da Silva, Anthony Garotinho e Sérgio Cabral. Foi colado no ex-deputado Eduardo Cunha e o partido do qual é presidente, o mesmo PSC de Witzel, abrigou por anos a família Bolsonaro.

Para além de sua ligação com a religião, sua maior aventura na política  foi disputar a Presidência em 2014 ficando na quinta colocação, com 780 mil votos.  Já sua grande cartada até então havia sido a invenção do “poste” Witzel na surpreendente eleição de 2018, quando contrariando todas as pesquisas eleitorais o ex-juiz  derrotou Eduardo Paes.

Pastor da Assembleia de Deus em Madureira, chefiada pelo Bispo Manoel Ferreira, Everaldo ganhou fama no meio político por ser considerado pragmático, organizado e tenaz. Ele se filiou ao PSC em 2003 e fez crescer exponencialmente o número de deputados eleitos depois de ter assumido o comando da legenda.

Como dono do partido, ele comprou a ideia da candidatura de Witzel quando ela era tratada como uma piada e aparecia com apenas 1% das intenções de voto. Hoje se tornou um articulador da relação com o Legislativo do Rio.

Com espaço amplo na gestão de Witzel, o presidente do PSC tem influência no Detran e ainda emplacou o filho, Filipe Pereira, como assessor especial do governador. Também é responsável pela indicação de Carlos Braz., filho de um obreiro da igreja para a diretoria do Interior da Cedae, responsável pelas obras da Chison.

O pastor já havia sido citado na Lava-Jato por um executivo da Odebrecht Ambiental. Ele teria recebido  R$ 6 milhões para favorecer Aécio Neves no debate presidencial de 2014, quando foi candidato ao Planalto.

De um tempo para cá, após as operações que miraram o entorno do governador, Everaldo tem tomado distância do Palácio Guanabara e causou suspense em comentários nas redes sociais dando indiretas com mensagens bíblicas para Witzel, como mostrou “Época”.

Um dos motivos das rusgas entre Everaldo e Witzel teria como pivô o ex-secretário de Desenvolvimento Econômico Lucas Tristão, também alvo da Lava-Jato.  Considerado braço direito do governador desde os tempos em que dividiam o mesmo escritório de advocacia, Tristão demitiu indicados do pastor no governo. Ele foi exonerado após as investigações da Lava-Jato indicarem ligação entre ele e Mário Peixoto, um dos cabeças do esquema de desvios na saúde.

Mandados de prisão confirmados:

  • Pastor Everaldo, presidente do PSC (preso);
  • Lucas Tristão, ex-secretário de Desenvolvimento Econômico;
  • Sebastião Gothardo Netto, médico e ex-prefeito de Volta Redonda (preso).

Mandados de busca e apreensão confirmados:

  • contra a primeira-dama, Helena Witzel, no Palácio Laranjeiras;
  • contra Cláudio Castro, vice-governador;
  • contra André Ceciliano(PT), presidente da Assembleia Legislativa (Alerj);
  • contra o desembargador do Trabalho Marcos Pinto da Cruz.

Os mandados estão sendo cumpridos também em outros endereços nos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo, São Paulo, Minas Gerais, Alagoas, Sergipe, Piauí e no Distrito Federal.

 

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