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Brasil vive economia do aperto

A propaganda oficial martela: “a inflação está sob controle”, “o desemprego caiu”, “a renda subiu”. Tudo lindo na moldura dourada da tecnocracia de Brasília. Mas quando o brasileiro vai ao banco pedir um empréstimo, a resposta vem gelada como pedra de mármore em necrotério: “não aprovado”.

Os números do Indicador de Demanda por Crédito da CNDL e do SPC Brasil desenham um quadro desconcertante: a busca por crédito encolheu 7,33% em abril de 2025 em comparação com abril do ano passado. Sim, caiu. Num país em que mais da metade da população vive pendurada no cartão de crédito, esse dado não é só estatística — é alarme.

Não faltam justificativas oficiais. O presidente da CNDL, José César da Costa, coloca o dedo na ferida: a inadimplência é alta, o passado de dívidas ainda bate à porta e o sistema financeiro faz cara feia para liberar crédito. E ele tem razão. As instituições financeiras estão com os dois pés no freio, temendo inadimplentes como gato escaldado teme água fria.

A realidade nua e crua é que vivemos um ciclo de crédito travado, paralisado entre a corda da necessidade popular e a lâmina afiada dos juros altos. O brasileiro precisa de crédito para sobreviver, mas o sistema responde com taxas surreais e exigências kafkianas. Resultado? Menos gente tentando, menos gente conseguindo, e quem consegue, paga o dobro — ou o triplo — daquilo que tomou emprestado.

E mais: dos que buscaram crédito, só 1,74% conseguiram contratar alguma linha. Isso mesmo: menos de dois em cada cem. E quase todos optaram pelo velho empréstimo pessoal, o “faz-tudo” do endividamento brasileiro, aquele que entra fácil e sai caro. Financiamentos? Raros como jabuticaba em supermercado europeu.

Se o crédito é o combustível da economia, estamos andando com o tanque na reserva e o pé no freio de mão. E não é só uma questão macroeconômica. Tem um lado humano nessa equação. O perfil médio de quem busca crédito é homem, entre 40 e 49 anos, morador, em sua maioria, do Sudeste. Gente que já viu de tudo, que trabalha, paga imposto e ainda assim, precisa pedir dinheiro emprestado para pagar o básico. A humilhação cotidiana da dependência financeira virou rotina.

Enquanto isso, Brasília dorme tranquila. Os bancos, em seus salões refrigerados, seguem faturando com tarifas e juros extorsivos. O cidadão comum? Esse vai se virando como pode. Pendura no cartão, atrasa o boleto, troca dívida cara por mais cara ainda. É o famoso “pagar um santo para cobrir outro”, com a diferença de que no fim os dois santos ficam devendo.

É preciso dizer com todas as letras: o crédito no Brasil está quebrado. Não por falta de demanda, mas por um modelo que trata o consumidor como inimigo. Sem crédito acessível e justo, não há consumo. Sem consumo, não há crescimento. E sem crescimento, sobra o quê? Desespero, informalidade e a volta da velha roda da pobreza.

O Brasil não pode continuar fingindo que está tudo bem porque os índices de desemprego caíram uma vírgula decimal. O país real está no vermelho. E quem ousa pedir crédito para sair do buraco, ouve um sonoro “não”.

E seguimos. Como sempre.

Esperando que um dia, quem toma as decisões lá em cima entenda que a vida aqui embaixo não se faz com planilhas — mas com dignidade, oportunidade e justiça econômica.

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