Nicette Bruno, a dama versátil da TV e do teatro
Morreu No último domingo (20) a atriz Nicette Bruno, de 87 anos. Ela estava internada desde o dia 29 de novembro com Covid-19 na Casa de Saúde São José, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Em mais de 70 anos de carreira, Nicette se mostrou versátil, transitando por diferentes gêneros e personagens, desde adoráveis mocinhas e matriarcas, até vilãs ardilosas.
Internada há quase duas semanas, o quadro da artista já “era considerado muito grave”. Nicette estava sedada e dependente de ventilação mecânica.
Nascida Nicette Xavier Miessa, em 7 de janeiro de 1933, em Niterói, Rio de Janeiro, a atriz percebeu cedo a vocação artística. Tinha apenas 4 anos de idade quando participou do programa infantil de Alberto Manes, na Rádio Guanabara. Aos 6, estudou piano no Conservatório Nacional e aos 11 chegou aos palcos com o grupo de teatro da Associação Cristã de Moços. Adotou o nome artístico Nicette Bruno em homenagem à mãe, Eleonor Bruno Xavier, médica e atriz: “A família da mamãe era Bruno. Como era toda muito voltada para o lado artístico, adotei esse nome. O lado do papai era mais financista, não tinha muito a ver”, explicou a atriz.
Nicette considerava que o ingresso na vida profissional ocorrera na peça “A Filha de Iório” (1947), de Gabriel D’Annunzio, em montagem criada pela companhia da atriz Dulcina de Moraes (1908-1996), ícone do teatro brasileiro na década de 1940, mestra do ofício em um momento pré-modernização das artes cênicas.
Aos 16 anos, Nicette tentou criar uma companhia de teatro no Rio de Janeiro. Em seu empenho –muitas vezes, em entrevistas, ela falou sobre o episódio–, Nicette procurou o presidente Getúlio Vargas para pedir dinheiro. Frustrada com uma promessa não cumprida do governante, no início dos anos 1950, aos 17 anos, veio a São Paulo com a tarefa de administrar uma sala, o Teatro de Alumínio.
Só então começou a formar a companhia Nicette Bruno e Seus Comediantes, que em 1953 migrou para sala vizinha com o nome Teatro Íntimo Nicette Bruno. Neste início de trajetória, a atriz entrou para a roda de profissionais traçando novos caminhos para o teatro nacional, com o diretor Antunes Filho e o ator Walmor Chagas entre eles.
Em 1952, com 19 anos, Nicette conheceu Paulo Goulart na peça Senhorita Minha Mãe, de Louis Verneuil. Eles se casaram dois anos depois, em 1954, e tiveram três filhos: Beth Goulart, Bárbara Bruno e Paulo Goulart Filho, que também seguiram a carreira artística. O casal ficou junto até a morte de Goulart em 2014, pouco antes do aniversário de 60 anos da união.
A estreia na TV aconteceu em 1959, no seriado ao vivo “Dona Jandira em Busca da Felicidade”, da TV Continental. A primeira novela de Nicette foi “Os Fantoches”, das extintas TV Excelsior e Rede Tupi. Depois disso, atuou em diversas novelas de sucesso. Além disso, em 2001, a veterana interpretou Dona Benta na segunda versão de “O Sítio do Pica-Pau Amarelo”, da Globo, durante quatro anos.
Os trabalhos da atriz na TV incluem Rosa dos Ventos (1973), Éramos Seis (1977), Selva de Pedra (1986), Bebê a Bordo (1988), Rainha da Sucata (1990), Mulheres de Areia (1993), A Próxima Vítima (1995), Sítio do Picapau Amarelo (2001–04), Alma Gêmea (2005), Sete Pecados (2007), A Vida da Gente (2011), e outras obras televisivas.
Nos últimos quinze anos, ela continuava atuante no teatro, no cinema e na televisão. Seu último papel na telinha foi Madre Joana, no remake da novela “Éramos Seis” (2020). No ano passado, fez uma judia possessiva em “Órfãos da Terra”.