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Elza Soares, ícone da música brasileira, morre aos 91 anos

Elza Soares, uma das maiores cantoras do Brasil, morreu nesta quinta-feira, 20, aos 91 anos. Segundo informações divulgadas pela assessoria da artista, ela morreu em casa, no Rio de Janeiro, às 15h45, de causas naturais.  A cantora morreu no mesmo dia que o ex-marido Mané Garrincha, 39 anos depois.

“É com muita tristeza e pesar que informamos o falecimento da cantora e compositora Elza Soares, aos 91 anos, às 15 horas e 45 minutos em sua casa, no Rio de Janeiro, por causas naturais. Ícone da música brasileira, considerada uma das maiores artistas do mundo, a cantora eleita como a Voz do Milênio teve uma vida apoteótica, intensa, que emocionou o mundo com sua voz, sua força e sua determinação. A amada e eterna Elza descansou, mas estará para sempre na história da música e em nossos corações e dos milhares fãs por todo mundo. Feita a vontade de Elza Soares, ela cantou até o fim”, diz o texto assinado por Pedro Loureiro, Vanessa Soares, familiares e a equipe da cantora.

Elza foi considerada pela BBC como a “voz brasileira do milênio”, em 1999, mas foi na década de 1950 quando começou a fazer sucesso no mundo da música. Ela subiu ao palco do “Calouros em Desfile”, programa comandado por Ary Barroso, e cantou “Lama”. O primeiro contrato foi assinado em 1960, incluindo ainda uma turnê internacional.

 

BIOGRAFIA

Elza Soares nasceu no Rio de Janeiro na Favela de Moça Bonita, uma estação ferroviária que se desenvolveu e hoje é conhecida como Vila Vintém. Filha de Avelino Gomes e Rosária Maria da Conceição, Elza estreou no universo musical cantando com seu pai, que na época era operário e tirava as horas vagas para tocar violão e cantar com a filha.

Elza herdou o sobrenome Soares do primeiro marido. Ela foi obrigada pelo pai a se casar quando tinha 12 anos, após ter sofrido uma tentativa de abuso sexual por Lourdes Antônio Soares, amigo da família. No ano seguinte, engravidou do primeiro filho e aos 21 anos já era viúva. Dois filhos da cantora morreram de fome ainda nos anos 1950.

Em meio a tantas dificuldades em uma situação de vulnerabilidade, Elza viu em seu talento na música uma forma de lutar e oferecer uma vida melhor aos filhos. Em 1953, se inscreveu no programa radiofônico “Calouros em Desfile”, apresentado por Ary Barroso. Ary, impressionado, anunciou que naquele exato momento acabara de “nascer uma estrela.” Elza então participou de um concurso de música na Rádio Tupi, e após isso conseguiu uma posição em um conjunto musical, que se apresentava em festas, bailes e casamentos. A cantora enfrentava, além da zombaria por seu jeito simples e roupas humildes, o machismo e racismo da época, que não aceitava mulheres negras cantando em grandes palcos.

Finalmente, após muitas tentativas falhas e até mesmo uma pequena turnê internacional, Elza conseguiu gravar seu primeiro disco :“Se Acaso Você Chegasse”(1960), que alcançou enorme sucesso nas rádios, gravado pela Odeon. Alguns diretores executivos de gravadoras famosas da época não contrataram a cantora pelo fato de Elza ser negra. Em uma apresentação da TV Tupi, a famosa chegou a ser atingida por uma lâmina jogada pela plateia em um ato de racismo explícito, sofrendo um corte pelo objeto atirado contra ela.

Após se consagrar no cenário da música nacional, Elza realizou turnês, parcerias e importantes gravações. Alguns de seus álbuns mais identitários, como “A Bossa Negra”(1960), “Na Roda Do Samba”(1964), “Elza, Miltinho E Samba”(1967), “Sangue Suor e Raça”(1972) e “Elza Soares”(1973), representam não só a música popular brasileira, mas também uma história de resistência da mulher negra em meio ao samba e a bossa nova. A cantora também flertou com o rock ao lado de Cazuza e o grupo “Titãs”. Com sua voz grave e levemente rouca, Elza criou uma marca registrada no meio musical de todo o mundo, substituindo até mesmo Ella Fitzgerald durante uma turnê internacional em que a cantora não pode comparecer.

Premiada diversas vezes com o Grammy Latino e outros importantes méritos, Elza é hoje considerada uma das maiores vozes femininas do país, não só por seu talento, mas como dito, por toda sua história que abrange outros pontos cruciais da cultura brasileira, com a famosa cantando sobre feminismo, negritude, desigualdade social e outros temas de grande importância social.

 

Casamento com Garrincha

Elza morreu no mesmo dia que o ex-marido. Eles se conheceram em 1962. Mesmo após tanto tempo, ela contou que sempre sonhava com o ex-atleta. Casado com outra mulher, o craque levou um ultimato da cantora, e foram morar juntos em 1966. Fãs e a própria imprensa perseguiam o casal e diziam que Elza era culpada pelo fim do relacionamento anterior dele.

Garrincha sofreu um acidente, o qual estava acompanhado da mãe de Elza, que veio a falecer. Durante esse período a imprensa e a ditadura não deixavam a cantora em paz quebrando discos, recebendo ataques e chegaram a metralhar sua casa. Devido a toda essa situação, Elza teve que se mudar para a Itália com Garrincha.

Voltaram ao Brasil, e depois de 16 anos de matrimônio Elza se separou de Garrincha em 1982, segundo a cantora, por decorrência das agressões, ciúmes, traições e principalmente pelo alcoolismo, o qual tirou a vida de Garrincha em 1983 com uma cirrose hepática.

O filho Garrinchinha, o único com o atleta, morreu em acidente de carro em 1986, aos 9 anos. O 4º filho da cantora a morrer foi Gilson, aos 59 anos, em 2015.

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